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A Inovação no Brasil: Lições do Global Innovation Index 2024 e o Impacto no Ecossistema de Saúde

Atualizado: 28 de set. de 2024

O Global Innovation Index - GII 2024, publicado recentemente pela World Intellectual Property Organization - WIPO, oferece um retrato detalhado de como o Brasil está posicionado no cenário global de inovação. Com base em 80 indicadores que avaliam insumos e resultados de inovação, o GII coloca o Brasil na 50ª posição entre 133 países, uma leve queda em relação ao 49º lugar no ano passado. Apesar de ser o líder em inovação na América Latina, o Brasil enfrenta desafios importantes para se consolidar entre as potências emergentes, como Índia e Vietnã, que têm mostrado avanços mais significativos.


Neste artigo, exploraremos como esses resultados impactam não só a economia em geral, mas também o ecossistema de saúde brasileiro, que inclui tanto sistemas públicos quanto privados. A evolução da inovação em saúde no Brasil é um aspecto central dessa discussão, especialmente em um momento em que o mundo se volta para soluções tecnológicas e científicas mais sofisticadas para desafios de saúde globais e locais.


O Cenário Atual de Inovação no Brasil: Entre Avanços e Desafios

Nos últimos anos, o Brasil fez avanços notáveis em alguns pilares da inovação, mas ainda enfrenta barreiras significativas, especialmente em áreas relacionadas à infraestrutura institucional e à criação de um ambiente regulatório estável e eficiente. No GII de 2024, o país ocupa a 50ª posição, com destaque positivo para áreas como sofisticação dos negócios e outputs de conhecimento e tecnologia, mas encontra grandes desafios em suas instituições (103ª posição) e infraestrutura (55ª posição)​.


Esses resultados são particularmente relevantes quando consideramos o setor de saúde. A infraestrutura do sistema de saúde público, representado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e a rede privada de saúde no Brasil convivem em um ecossistema que ainda enfrenta ineficiências, mas que tem potencial para grandes inovações. Iniciativas de digitalização, como a Saúde Digital, começam a se integrar mais profundamente tanto no SUS quanto nos hospitais privados, com o objetivo de otimizar o atendimento e reduzir custos. No entanto, o ambiente regulatório lento e a dificuldade de se registrar novas tecnologias e medicamentos ainda limitam a velocidade da inovação.


Comparações com Nações Emergentes

Em uma comparação com outras nações emergentes, o Brasil está ficando atrás de países como a Índia (40ª posição) e o Vietnã (43ª posição). Esses países têm investido fortemente em áreas críticas, como a educação tecnológica e a capacitação de sua força de trabalho. O Brasil, embora faça investimentos significativos em pesquisa e desenvolvimento (1,1% do PIB, ocupando a 35ª posição), ainda tem uma lacuna considerável em termos de tradução desse investimento em resultados práticos, como patentes e inovações comerciais​.


Esse fator é evidente no setor de saúde, onde a pesquisa acadêmica e a produção de conhecimento não necessariamente resultam em novos tratamentos, tecnologias ou patentes. Segundo o GII, o Brasil registrou uma queda de 5,78% no número de patentes em 2022, o que reflete a dificuldade de transformar conhecimento científico em inovações aplicáveis​. Na Índia, por outro lado, o forte ecossistema de startups, aliado a um ambiente regulatório mais ágil e parcerias público-privadas, tem gerado inovações disruptivas em saúde, como tecnologias baseadas em inteligência artificial e telemedicina.


O Ecossistema de Inovação em Saúde no Brasil

Apesar das dificuldades, o Brasil tem evoluído significativamente no campo da inovação em saúde. A criação de clusters de inovação em cidades como São Paulo, que é o principal polo de ciência e tecnologia do país, tem sido um importante catalisador para o desenvolvimento de tecnologias na área médica​(br (1)). Hospitais de ponta, como o Sírio Libanês e o Albert Einstein, têm colaborado com startups e empresas de tecnologia para integrar soluções digitais, desde prontuários eletrônicos até plataformas de telemedicina.


A inovação no SUS também vem avançando. Programas como o Conecte SUS, que visa a digitalização do sistema público de saúde, são exemplos de como a tecnologia pode ser usada para melhorar o atendimento e a eficiência operacional. No entanto, a verdadeira transformação digital no SUS ainda enfrenta desafios, principalmente em áreas remotas, onde a infraestrutura de internet e de saúde ainda é deficiente. Isso ressalta a importância de mais investimentos em infraestrutura, um ponto fraco não só no setor de saúde, mas em todo o ecossistema de inovação do país​.


No setor privado, grandes grupos hospitalares vêm experimentando com tecnologias emergentes como inteligência artificial para diagnósticos e predição de doenças. Além disso, o Brasil tem se destacado na produção de pesquisas científicas relevantes, ocupando a 24ª posição no índice H de documentos citáveis​. Essa capacidade científica, se melhor integrada com o setor privado, pode gerar inovações de impacto global.


O Que Estamos Fazendo Certo

Há várias áreas em que o Brasil tem se destacado. Uma delas é a sofisticação de negócios, onde o país ocupa a 39ª posição, refletindo a força de suas indústrias e do ecossistema de startups​. No campo da saúde, isso se traduz em um número crescente de startups focadas em healthtechs e biotecnologia, que estão desenvolvendo soluções inovadoras para problemas complexos, como diagnóstico precoce e medicina personalizada.


Outra área de destaque é o uso de energias limpas e tecnologias sustentáveis. O Brasil tem um dos maiores potenciais globais para inovação em bioeconomia, graças à sua biodiversidade única, especialmente na Amazônia. Essa vantagem competitiva, que é pouco explorada por outros países emergentes, pode posicionar o Brasil como líder em inovações sustentáveis aplicáveis ao setor de saúde, como o desenvolvimento de novos medicamentos a partir de insumos naturais.


Lições a Serem Aprendidas

Apesar desses pontos fortes, há lições importantes a serem aprendidas com países como Índia e Vietnã. A Índia, por exemplo, investe pesadamente na capacitação de sua força de trabalho em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), enquanto o Brasil ainda ocupa uma posição baixa (97ª) no número de graduados nessas áreas​(br (1)). Isso cria uma lacuna significativa na capacidade do Brasil de criar tecnologias de ponta, essenciais para a evolução do sistema de saúde.


Outro ponto crítico é o ambiente regulatório. Países como o Vietnã têm simplificado significativamente seus processos regulatórios, tornando mais fácil para startups e empresas inovadoras testar e comercializar novos produtos. No Brasil, o cenário regulatório ainda é um dos principais gargalos para o avanço da inovação, principalmente no setor de saúde, onde o registro de novos medicamentos e dispositivos pode ser um processo longo e custoso.


O Futuro da Inovação em Saúde no Brasil

Olhando para o futuro, o Brasil tem o potencial de se tornar uma referência global em inovação em saúde, especialmente se conseguir melhorar a integração entre ciência, tecnologia e negócios. Um foco maior em parcerias público-privadas e a criação de um ambiente regulatório mais ágil são essenciais para essa transformação.


Além disso, a digitalização do sistema de saúde, tanto no SUS quanto na rede privada, precisa ser acelerada para que o Brasil possa enfrentar os desafios de uma população envelhecida e o aumento da demanda por serviços de saúde de qualidade. O investimento contínuo em tecnologias como inteligência artificial, análise de big data e telemedicina será crucial para garantir que o sistema de saúde brasileiro seja não só eficiente, mas também inovador.


A biodiversidade do Brasil também pode desempenhar um papel fundamental nesse futuro. Iniciativas que utilizem os recursos naturais do país para o desenvolvimento de novos tratamentos e medicamentos podem colocar o Brasil na vanguarda da inovação global em saúde sustentável.


Embora o Brasil tenha perdido uma posição no GII 2024, a jornada para se tornar uma potência em inovação, especialmente no setor de saúde, continua promissora. O país tem pontos fortes únicos que podem ser alavancados, como sua biodiversidade, capacidade de pesquisa e ecossistema de startups. Contudo, para que o Brasil avance de forma significativa, será essencial focar em educação, melhorar o ambiente regulatório e investir mais em P&D privado.


O futuro da inovação em saúde no Brasil depende da nossa capacidade de aprender com outras nações emergentes e de implementar políticas e práticas que incentivem a colaboração entre ciência e negócios. Se conseguirmos superar esses desafios, o Brasil pode, de fato, liderar o caminho para uma nova era de inovação em saúde.


Acesse o relatório do GII com os dados do Brasil aqui



Marcio de Paula - Fundador do Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde - IBIS


por Marcio de Paula

Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde - IBIS

 
 
 

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