O universo da saúde digital tem mostrado avanços significativos em 2024, com startups ao redor do mundo moldando o futuro da assistência à saúde, diagnósticos e eficiência operacional. A recém-lançada lista Digital Health 50 da CB Insights destaca as 50 startups de saúde digital mais promissoras do mundo, selecionadas entre mais de 10.000 candidatas, com base em métricas proprietárias como maturidade comercial, parcerias, patentes e captação de recursos. O relatório completo pode ser acessado aqui.
A leitura dessa lista desperta reflexões importantes sobre o futuro da inovação em saúde e como o Brasil pode encontrar seu espaço em um cenário tão dinâmico. Compartilho aqui as principais tendências e insights identificados, bem como perspectivas sobre os caminhos que podemos trilhar para fortalecer nosso ecossistema.
1. Tendências Tecnológicas Dominantes em Saúde Digital
As startups destacadas pela CB Insights são um reflexo do futuro da saúde, com tecnologias que respondem a desafios críticos no setor:
Inteligência Artificial (IA): 36 das 50 empresas utilizam IA como parte central de suas soluções. Exemplos incluem ferramentas para automação administrativa, como a Alaffia Health, e modelos de linguagem para saúde, como a Hippocratic AI. O uso da IA está deixando de ser restrito a soluções pontuais para se tornar um componente essencial da infraestrutura em saúde, permitindo ganhos de eficiência e acessibilidade.
Inovações Diagnósticas: Este é o maior segmento, com startups como Airs Medical (diagnósticos por imagem) e Proscia (patologia). Essas empresas estão liderando a transição para diagnósticos mais acessíveis e não invasivos. Tecnologias de ponta estão sendo empregadas para antecipar diagnósticos e melhorar a tomada de decisão clínica.
Cuidados Virtuais e Híbridos: Houve um salto no número de startups nesta área, com modelos de atendimento focados em condições específicas, como Talkiatry (saúde mental) e Resilience (cuidados oncológicos). Esse crescimento reflete a evolução do atendimento remoto, que se afasta da telemedicina genérica para focar em plataformas especializadas.
Eficiência Operacional: Startups como Tennr e Abridge lideram soluções que automatizam tarefas administrativas e clínicas, um movimento essencial frente às crises de recursos humanos na saúde. A automação não apenas otimiza custos, mas também libera profissionais para se dedicarem ao cuidado direto com os pacientes.
2. Origem Geográfica das Startups
A distribuição geográfica das startups reflete o desenvolvimento desigual dos ecossistemas de inovação em saúde:
Estados Unidos: 70% das startups listadas têm sede nos EUA, consolidando o país como líder global em inovação digital. A combinação de financiamento robusto, infraestrutura tecnológica e cultura de inovação explica esse domínio.
Europa e Ásia: Startups de países como Alemanha (Aignostics) e Coreia do Sul (Airs Medical) mostram a força de ecossistemas regionais que têm focado em IA e diagnósticos avançados. Esses países se destacam por integrarem pesquisa acadêmica de ponta com aplicação comercial.
Ausência de Startups Brasileiras: Nenhuma startup brasileira figura na lista, indicando desafios estruturais e competitivos para o Brasil neste setor. Essa ausência levanta questões importantes sobre a necessidade de fortalecer o ambiente local de inovação.
3. Maturidade das Startups
As empresas do Digital Health 50 apresentam Mosaic Scores altos (média > 750), que refletem potencial de crescimento sustentável. Além disso:
Captação de Recursos: 80% das startups já completaram rodadas de investimento série B ou superiores, com valores superiores a US$ 50 milhões em média. Esses números refletem ecossistemas maduros, onde capital e know-how fluem para projetos com alto impacto.
Parcerias Estratégicas: Muitas têm alianças com grandes empresas e instituições, como o Berlin Institute of Health (Aignostics). Essas parcerias aceleram a validação e a adoção de tecnologias emergentes.
4. Desafios e Perspectivas para o Brasil
O Brasil, com seu robusto Complexo Econômico e Industrial da Saúde (CEIS) e iniciativas como a Rede Brasileira de Inovação Farmacêutica (RBIF), possui potencial para competir globalmente. No entanto, é necessário superar barreiras críticas:
Financiamento: O volume de investimentos em startups de saúde no Brasil ainda é muito inferior ao de países desenvolvidos. Além disso, muitos investidores locais têm um perfil conservador, priorizando setores mais tradicionais.
Parcerias Internacionais: A integração de startups brasileiras em ecossistemas globais ainda é limitada. Hubs como o Eretz.bio (Einstein) e o InovaHC já desempenham papéis importantes, mas é necessário ampliar essas conexões.
Talentos e Capacitação: É essencial formar profissionais alinhados às demandas de inovação em saúde, com foco em IA, telemedicina e biotecnologia. Iniciativas acadêmicas e parcerias público-privadas podem desempenhar um papel decisivo nesse processo.
Cultura de Inovação: O Brasil ainda enfrenta barreiras culturais que dificultam a aceitação do risco inerente à inovação. Fortalecer uma mentalidade empreendedora é tão importante quanto criar infraestrutura.
Estes dados me fazem refletir sobre como nosso ecossistema de inovação pode evoluir de maneira mais consistente e assertiva. As áreas de força do Brasil, como biodiversidade e biotecnologia, oferecem oportunidades únicas para criar soluções inovadoras, mas isso exige visão de longo prazo, investimento e, acima de tudo, colaboração.
Há muito que aprender com as startups globais presentes no Digital Health 50. A capacidade de alinhar tecnologia de ponta, financiamento estratégico e uma visão clara de impacto é o que separa os líderes globais dos demais. Para o Brasil, o desafio é transformar potencial em protagonismo, construindo um ecossistema que valorize tanto a ciência quanto o empreendedorismo.
O Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde – IBIS está comprometido em ser uma ponte entre ideias transformadoras e resultados concretos. Se você compartilha desse mesmo objetivo, acompanhe nossas iniciativas e explore como podemos colaborar para acelerar a inovação em saúde no Brasil. Juntos, podemos ampliar o alcance de soluções inovadoras e fortalecer nosso ecossistema.

por Marcio de Paula
Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde - IBIS
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