Nos últimos anos, o Brasil intensificou seus esforços para fortalecer o ambiente de inovação na área de saúde, com avanços notáveis no setor farmacêutico e biotecnológico. Essas áreas são essenciais para o desenvolvimento econômico e para que o país se posicione como um líder competitivo no cenário global. O relatório mais recente da Organização Mundial de Propriedade Intelectual (WIPO), intitulado World Intellectual Property Report 2024, oferece insights valiosos sobre o progresso global e regional no uso da Propriedade Intelectual (PI) como motor de inovação, especialmente em economias emergentes. O Brasil se destaca como uma das economias que busca, por meio de políticas de incentivo e proteção à PI, avançar na complexa área da saúde.
A Importância da Propriedade Intelectual no Crescimento da Inovação
De acordo com dados recentes do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), o Brasil registrou um aumento substancial nos pedidos de patentes farmacêuticas nos últimos anos, crescendo de 117 em 2006 para 334 em 2020. Esse crescimento não é apenas uma estatística, mas reflete um movimento em direção à inovação endógena, onde instituições e empresas brasileiras estão focadas em desenvolver soluções adaptadas à realidade do país. No setor de biotecnologia, que inclui terapias avançadas, genômica e imunoterapias, o Brasil também apresenta uma performance sólida, embora enfrente desafios estruturais e de infraestrutura para traduzir essas inovações em produtos comerciais amplamente acessíveis.
Esses avanços em patentes são essenciais para que empresas brasileiras garantam retorno sobre investimentos em pesquisa e desenvolvimento (P&D). De acordo com o relatório da WIPO, a PI é especialmente relevante em setores com altos custos de inovação, como a indústria farmacêutica e biotecnológica, onde o ciclo de desenvolvimento é longo e requer uma proteção robusta para que novas tecnologias possam ser introduzidas com segurança e competitividade.
Fortalecimento da Capacidade de Pesquisa em Saúde e Farmacêutica
No Brasil, a Fiocruz e o Instituto Butantan têm sido protagonistas no desenvolvimento de vacinas, terapias personalizadas e soluções biotecnológicas. Essas instituições não apenas representam a capacidade científica do Brasil, mas também estabelecem colaborações internacionais que potencializam a inovação local. Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, essas instituições foram cruciais na resposta brasileira, desenvolvendo vacinas e parcerias para fabricação local. Essas iniciativas mostraram a importância de parcerias estratégicas entre o setor público e privado para enfrentar crises sanitárias globais.
Além disso, o ambiente regulatório brasileiro também vem acompanhando essa trajetória de inovação, com a implementação de políticas que buscam alinhar os interesses de longo prazo da indústria com a necessidade de proteção de PI. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) tem desempenhado um papel importante no suporte à inovação em saúde, oferecendo suporte regulatório e colaborando com o INPI para acelerar a aprovação de patentes em áreas estratégicas, como medicamentos e dispositivos médicos.
Oportunidades e Desafios de Competitividade Regional
O Brasil se destaca no contexto latino-americano como um dos países com o ecossistema de inovação em saúde mais desenvolvido. Essa posição é resultado de uma série de políticas de incentivo à pesquisa e inovação, além de uma infraestrutura de P&D relativamente avançada. Entretanto, o país ainda enfrenta obstáculos que limitam sua capacidade de competir em escala global. Um dos maiores desafios é a dependência de insumos importados para a fabricação de medicamentos. Cerca de 90% dos ingredientes farmacêuticos ativos (IFAs) utilizados pela indústria nacional são importados, o que representa uma vulnerabilidade significativa em tempos de interrupções nas cadeias de suprimentos.
Para superar esse desafio, o Brasil precisará fortalecer sua capacidade de produção local de insumos farmacêuticos e investir em infraestrutura que suporte a escalabilidade da inovação. As iniciativas do governo federal, como o programa Brasil Mais Produtivo, que visa estimular a produção de insumos essenciais, são passos importantes nessa direção, mas ainda há um longo caminho para alcançar uma independência significativa. O apoio a parcerias público-privadas, como as estabelecidas no setor de biotecnologia agrícola, pode ser uma solução viável para impulsionar a produção local também no setor de saúde.
Comparação com Outras Economias Emergentes
No cenário global, países como Índia e China têm se destacado na inovação farmacêutica e biotecnológica. A Índia, por exemplo, se tornou um hub global de produção de medicamentos genéricos e vacinas, graças a uma política de incentivo à inovação que oferece benefícios fiscais e subsídios para P&D. A China, por outro lado, investiu pesadamente em sua infraestrutura de pesquisa e na proteção de PI, promovendo um ambiente que favorece a criação de tecnologias locais que competem globalmente.
O Brasil, embora tenha uma base sólida em P&D, ainda precisa avançar em termos de infraestrutura e capacidade de produção para alcançar o nível desses países. No entanto, a experiência brasileira com inovação colaborativa e sua liderança na América Latina oferecem um modelo interessante para outras economias emergentes. Instituições brasileiras como o Instituto Butantan e a Fiocruz já exercem uma influência regional, exportando inovação para outros países da América Latina e formando redes colaborativas de pesquisa que promovem o compartilhamento de conhecimento e tecnologia.
Estratégias para o Futuro da Inovação em Saúde no Brasil
Para que o Brasil continue avançando, algumas estratégias são fundamentais:
Fortalecimento da Produção Nacional: Investir em infraestrutura para produção de IFAs e em tecnologias que reduzam a dependência de insumos importados. Isso não só aumentará a resiliência do setor, mas também promoverá a competitividade das empresas brasileiras no mercado global.
Expansão de Parcerias Estratégicas: A criação de parcerias público-privadas para impulsionar o desenvolvimento de tecnologias locais é essencial. Essas parcerias podem facilitar o compartilhamento de custos de P&D, reduzindo os riscos para empresas e acelerando o desenvolvimento de soluções inovadoras.
Incentivo à Proteção de PI: A proteção de PI deve ser vista como uma estratégia de longo prazo para fortalecer a posição do Brasil no cenário global de inovação. Fortalecer a cooperação entre o INPI e a Anvisa para agilizar a aprovação de patentes em áreas estratégicas pode proporcionar segurança jurídica para empresas e atrair investimentos.
Apoio à Inovação Regional: Incentivar hubs de inovação em diferentes regiões do país, aproveitando os recursos e competências locais para criar um ecossistema mais diverso e resiliente. Esses hubs podem promover a inovação local e regional, ampliando o impacto econômico e social do setor de saúde no Brasil.
Construindo o Futuro da Inovação em Saúde com o IBIS
O Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde - IBIS está comprometido com essa visão de crescimento e fortalecimento do ecossistema de inovação em saúde no Brasil. Atuamos para inspirar e capacitar empreendedores, pesquisadores e startups, oferecendo suporte e conectando atores-chave para transformar ideias em soluções reais que impactem a vida das pessoas. Nossa missão é contribuir para um ambiente de inovação que promova a competitividade e a sustentabilidade no setor de saúde.
Quer saber mais sobre nossas iniciativas e como o IBIS está moldando o futuro da inovação em saúde no Brasil? Visite nosso site e acompanhe nossas ações para fazer parte desse movimento.
Para acessar o relatório completo da WIPO, consulte este link.

por Marcio de Paula
Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde - IBIS
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