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GLP-1 e a Nova Dinâmica da Indústria Farmacêutica: O Impacto do Crescimento de Lilly e Novo Nordisk

O mercado farmacêutico global passa por uma transformação significativa, impulsionada pelo crescimento das vendas dos agonistas do receptor GLP-1, medicamentos voltados para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade. Empresas como Eli Lilly e Novo Nordisk se destacam nesse cenário, apresentando taxas de crescimento que contrastam fortemente com o desempenho do restante do setor. O impacto desse fenômeno vai além das receitas dessas companhias e pode redefinir estratégias de investimento, inovação e acesso a medicamentos nos próximos anos.


Este artigo explora as implicações dessa ascensão dos GLP-1, os desafios que ela apresenta e as oportunidades para o Brasil e América Latina.


De acordo com projeções recentes, o mercado farmacêutico global deve crescer 6,1% em 2025. No entanto, sem a contribuição de Lilly e Novo Nordisk, esse crescimento cairia para 3,7% – uma evidência clara do impacto desproporcional que os GLP-1 estão tendo na indústria.


Vendas de medicamentos de perda de peso da Eli Lilly e Novo Nordiks

As duas empresas estão no centro de uma revolução no tratamento de doenças metabólicas. Seus produtos para obesidade e diabetes, como Zepbound (Lilly) e Wegovy (Novo Nordisk), estão registrando uma demanda sem precedentes, superando as expectativas do mercado. Para se ter uma ideia da magnitude desse movimento, espera-se que os GLP-1 movimentem US$ 131 bilhões globalmente até 2028.


Além disso, a projeção é que a participação conjunta de Novo Nordisk e Eli Lilly no mercado farmacêutico suba de 15% para 19% até 2029. Essas empresas estão moldando o futuro do setor e forçando outras farmacêuticas a repensarem suas estratégias.


O crescimento acelerado dos GLP-1 representa uma mudança de paradigma. Até então, a inovação em fármacos era amplamente dispersa entre diferentes áreas terapêuticas. Agora, um segmento específico está capturando uma parcela significativa do investimento e atenção da indústria. Isso gera uma série de consequências:


  • Ajustes estratégicos em P&D – Empresas concorrentes como Pfizer e AbbVie já estão investindo fortemente no desenvolvimento de seus próprios medicamentos para obesidade, mas levará anos para que um concorrente direto consiga ameaçar a liderança de Lilly e Novo Nordisk.


  • Novos padrões de precificação e acesso – A popularização dos GLP-1 levanta questões sobre acesso a tratamentos de alto custo, especialmente em mercados emergentes.


  • Valorização no mercado financeiro – O sucesso dessas empresas está impulsionando suas ações e elevando o interesse de investidores no setor biofarmacêutico.


Além disso, o impacto dos GLP-1 não se limita apenas ao setor farmacêutico. Estima-se que esses medicamentos possam afetar o mercado de alimentos ultraprocessados e até o setor fitness, já que a mudança no comportamento alimentar gerada pelo uso dessas substâncias pode reduzir o consumo de determinados produtos e serviços.


O crescimento do mercado de GLP-1 levanta uma questão crucial: como países emergentes podem se posicionar diante dessa revolução? No Brasil, onde cerca de 22% da população adulta é obesa e 10% tem diabetes, a chegada desses medicamentos representa uma oportunidade de transformação da saúde pública. No entanto, há desafios importantes a serem superados:


  • Acesso e custo – O preço desses medicamentos ainda é elevado para a realidade brasileira. Sem políticas que incentivem a produção local ou parcerias para redução de custos, o acesso pode ficar restrito a um grupo pequeno de pacientes.


  • Capacidade de produção nacional – O Brasil possui um parque industrial farmacêutico robusto, mas ainda não desenvolveu alternativas nacionais para os GLP-1. A pergunta que se impõe é: poderemos entrar nesse mercado, ou seremos apenas consumidores passivos de inovação estrangeira?


  • Regulação e incorporação ao SUS – Para que esses medicamentos tenham impacto populacional, será fundamental discutir sua incorporação no sistema público de saúde, um processo que exige análise de custo-benefício e negociação com os fabricantes.


Se bem planejadas, políticas públicas e incentivos à produção local poderiam tornar o Brasil um polo estratégico para a distribuição de tratamentos baseados em GLP-1 na América Latina.


A ascensão dos GLP-1 é um reflexo de como a inovação farmacêutica pode remodelar toda uma indústria. Empresas que souberem antecipar tendências e alinhar suas estratégias à demanda do mercado terão uma vantagem competitiva importante.


Para o Brasil, esse movimento representa um sinal de alerta e uma oportunidade. Se o país investir em pesquisa, produção e políticas de acesso, pode se tornar um protagonista nessa nova era da saúde. Caso contrário, dependeremos exclusivamente da importação desses tratamentos, limitando seu impacto na saúde pública e na economia.


No IBIS, acompanhamos de perto essas mudanças e trabalhamos para conectar startups e pesquisadores a oportunidades de inovação no setor de saúde. A revolução dos GLP-1 está apenas começando – e as decisões tomadas agora definirão nosso papel nesse cenário global.


Marcio de Paula, Fundador do IBIS


por Marcio de Paula

Instituto Brasileiro de Inovação em Saúde - IBIS

 
 
 

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